segunda-feira, 31 de outubro de 2011

domingo, 30 de outubro de 2011

À janela de Miguel Torga

Amparado nos braços velhos e amorosos da mãe, o rapaz chegara-se à janela e olhava as leiras em pouso, as casas fechadas e o largo deserto. O tamanho da desgraça entrava pelos olhos dentro.
- A Lucinda morreu, pois morreu, minha mãe?
O sino repicava sempre, alegre, festivo, prometedor.
- Há mais raparigas no mundo... Não te aflijas...  
As terras, lá fora, pediam fé e coragem. Pelo menos a fé e a coragem que a mãe tinha, sem homem, sem filhas, sem netos, cheia de lágrimas, de dívidas, e cansada até à última fibra do coração.

Miguel Torga, Novos Contos da Montanha.1944.

sábado, 29 de outubro de 2011

À janela de Pessoa

Segunda
- Todo este paiz é muito triste... Aquelle onde eu vivi outr'ora era menos triste. Ao entardecer eu fiava, sentada á minha janella. A janella dava para o mar e ás vezes havia uma ilha ao longe... Muitas vezes eu não fiava; olhava para o mar e esquecia-me de viver. Não sei se era feliz. Já não tornarei a ser aquillo que talvez eu nunca fôsse...


Primeira
- Fóra de aqui, nunca vi o mar. Alli, d'aquella janella, que é a unica de onde o mar se vê, vê-se tão pouco!... O mar de outras terras é bello?


Segunda
Só o mar das outras terras é que é bello. Aquelle que nós vemos dá-nos sempre saudades d'aquelle que não veremos nunca...

Fernando Pessoa, "O Marinheiro. Drama Estático em Um Quadro". Orpheu. Revista Trimestral de Literatura. nº 1. 1915

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

À janela de Cervantes

En fin, una noche sintió Anselmo pasos en el aposento de Leonela, y, queriendo entrar a ver quién los daba, sintió que le detenían la puerta, cosa que le puso más voluntad de abrirla; y tanta fuerza hizo, que la abrió, y entró dentro a tiempo que vio que un hombre saltaba por la ventana a la calle; y, acudiendo con presteza a alcanzarle o conocerle, no pudo conconseguir lo uno ni lo otro, porque Leonela se abrazó con él, diciéndole:
- "Sosiégate, señor mío, y no te alborotes, ni sigas al que de aquí saltó; es cosa mía, y tanto, que es mi esposo."
No lo quiso creer Anselmo; antes, ciego de enojo, sacó la daga y quiso herir a Leonela, diciéndole que le dijese la verdad, si no, que la mataría. Ella, con el miedo, sin saber lo que se decía, le dijo:
- "No me mates, señor, que yo te diré cosas de más importancia de las que puedes imaginar."
- "Dilas luego - dijo Anselmo - si no, muerta eres."
- "Por ahora será imposible - dijo Leonela - según estoy de turbada; déjame hasta mañana, que entonces sabrás de mí lo que te ha de admirar; y está seguro que el que saltó por esta ventana es un mancebo desta ciudad, que me ha dado la mano de ser mi esposo.

Miguel Cervantes de Saavedra,  El ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha, 1605-1615.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

À janela de Rembrandt

Rembrandt [Rembrandt van Rijn]  (Dutch, Leiden 1606–1669 Amsterdam), Self-Portrait Drawing at a Window. 1648

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

À janela de Camilo

O meu amigo chegou á janella, e tossiu a tosse especial dos namorados de 1826, que era uma tosse secca, como a do ultimo periodo da tysica laryngéa. Hermenigilda acudiu ao reclamo catarrhoso, e viu risonha a cara do meu amigo Castro, que realmente era um perfeito homem. Retirou depressa os olhos, mas depressa obedeceu com elles ao magnetismo das olhadellas do visinho. Eu cá da minha alcova, por entre os farrapões das cortinas amarellas, estava presenceando o introito comico do acto mais solemne da vida dos povos, que era o casamento então, e hoje são as eleições.
O meu amigo não se despegava do peitoril da janella. A pequena ia e vinha; olhava-o, como a disfarce, lá do fundo da sala, e trazia sempre um terço do olho esquerdo compromettido.
Castro manifestava com o nariz o seu contentamento, empenhando-o na victoria. Assoando-se, trombeteava o som menos amoroso possivel. O nariz, considerado porta-voz do coração, ecco da poesia intima, interprete da linguagem muda da ternura, exerce a mais nobre das missões corporeas, e attinge um elevado grau de perfectibilidade nazal, depois do outro, mais elevado ainda, de espiraculo de defluxo, e absorvente de simonte.
Fui almoçar, e deixei o meu amigo na janella. Quando voltei, estava elle radioso de gloria. «Então?—disse-lhe eu—quantos graus acima de zero marca o thermometro da visinha?
—Está pegado o namoro. 
«Eu vi tudo. 
—Mas não viste o melhor. Offereci-lhe uma carta. Ella primeiro disse que não...
«Que não sabia lêr?
—Não, homem: disse que não acceitava. Instei, e, por fim, deu signal affirmativo com a cabeça, e fugiu da janella.
«Oh! é tocante essa fuga! o que faz o pudor! A virginal menina não pôde mostrar a fronte á luz do sol, depois d'uma fraqueza a que a paixão a compelliu! 
—Tu estás caçoando. 

Camilo Castelo Branco,  Cenas da Foz, Porto, Casa de Cruz Coutinho Editor, 1857.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tintin

Tintin: "Perdi o pergaminho, mas não perdi a história" "As aventuras de Tintin" de Steven Spielberg [ontem, em anteestreia nacional, em Guimarães].

Saudades do mar

Pela manhã:
Ao fim da tarde:


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

À janela de "Soror Mariana"

Dona Brites insistiu, nestes últimos dias, para que saísse do quarto: julgando distrair-me, levou-me a passear até ao balcão de onde se avista Mértola. Segui-a, mas fui logo ferida por tão atroz lembrança que passei o resto do dia lavada em lágrimas. Trouxe-me outra vez para o meu quarto, atirei-me para cima da cama, e ali fiquei a reflectir na pouca esperança que tenho de vir um dia a curar-me. Tudo o que fazem para me confortar agrava o meu sofrimento, e nos próprios remédios encontro novas razões de aflição. Muitas vezes dali te vi passar com um ar que me deslumbrava; estava naquele balcão no dia fatal em que senti os primeiros sinais da minha desgraçada paixão. Pareceu-me que pretendias agradar-me, embora não me conhecesses; convenci-me de que me havias distinguido entre todas aquelas que estavam comigo, quando paravas imaginava que o fazias intencionalmente para que melhor te visse, e admirasse o garbo e a destreza com que dominavas o cavalo, dava comigo assustada, quando o levavas por sítios perigosos; enfim, interessava-me secretamente por todas as tuas acções, sentia já me não era de modo nenhum indiferente, e reclamava para mim tudo quanto fazias.

Cartas Portuguesas (Quarta). Edição organizada por Eugénio Andrade.
in Eugénio de Andrade, Poesia e Prosa, 2º vol, 4ª edição, O Jornal, 1990.

domingo, 23 de outubro de 2011

À janela de Machado de Assis

Assim eu, Brás Cubas, descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.

Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881.

sábado, 22 de outubro de 2011

À janela de Eça

Jazer, jazer em casa, na segurança das portas bem cerradas e bem defendidas contra toda a intrusão do mundo, seria uma doçura para o meu Príncipe se o seu próprio 202, com todo aquele tremendo recheio de Civilização, não lhe desse uma sensação dolorosa de abafamento, de atulhamento!
Julho escaldava: e os brocados, as alcatifas, tantos móveis roliços e fofos, todos os seus metais e todos os seus livros, tão espessamente o oprimiam, que escancarava sem cessar as janelas para prolongar o espaço, a claridade, a frescura.
Mas era então a poeira, suja e acre, rolada em bafos mornos, que o enfurecia:
 - Oh, este pó da Cidade! 

Eça de Queirós, A Cidade e as Serras. Porto, Livraria Chardron, 1901.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

À janela de Garrett

Para mais realçar a belleza do quadro, ve-se por entre um claro das árvores a janella meia aberta de uma habitação antiga mas não dilapidada―com certo ar de confôrto grosseiro, e carregada na côr pelo tempo e pelos vendavais do sul a que está exposta. 
A janella é larga e baixa; parece mais ornada e tambem mais antiga que o resto do edificio que todavia mal se ve... Interessou-me aquella janella. Quem terá o bom gôsto e a fortuna de morar alli? Parei e puz-me a namorar a janella. Incantava-me, tinha-me alli como n'um feitiço. Pareceu-me entrever uma cortina branca... e um vulto por de traz... Imaginação decerto! Se o vulto fosse feminino!.. era completo o romance.
Como hade ser bello ver pôr o sol d'aquella janella!.. E ouvir cantar os rouxinoes!.. E ver raiar uma alvorada de maio!.. Se haverá alli quem a aproveite, a deliciosa janella?.. quem apprecie e saiba gosar todo o prazer tranquillo, todos os sanctos gosos de alma que parece que lhe andam esvoaçando em tôrno?
Se fôr homem é poeta; se é mulher está namorada. 

Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra. Lisboa, Tipografia da Gazeta dos Tribunais, 1846.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Não sei ainda quando me poderei ver livre desta maldita


As quartolas de vinho tinto devem logo sem bem lavadas e enxofradas, e bem assim o casco em que está o branco (se se puder despejar a tempo) para ficarem de reserva, bem como 2 ou 3 garrafões também enxofrados, porque não sabemos o vinho novo que sobejará depois de se encher o tonel. A água-pé deve arrumá-la na vasilha ou vasilhas que lhe ficar depois de alojado o vinho.
Previno tudo isto, porque começando os banhos só amanhã ou depois não sei ainda quando me poderei ver livre desta maldita Lisboa.

Alexandre Herculano, Cartas de Vale de Lobos.

In Nuno de Sampayo (org.). As Profissões na Literatura Portuguesa. Antologia. Lisboa. Junta de Acção Social, S/d. p. 11-12.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pode clarificá-lo com as claras de 2 dúzias de ovos (cujas gemas as moças aproveitarão)

Os oito dias de curtimenta ou os mais que foram deve-os aproveitar para trasfegar o vinho do ano passado, tanto tinto (se este se conservar livre do ácido como o achámos quando ultimamente o provámos) como o branco, para os garrafões de grés e se não chegarem devem estar ainda na Azóia 10 ou 12 que são meus. Se o branco estiver ainda um pouco turvo, pode clarificá-lo com as claras de 2 dúzias de ovos (cujas gemas as moças aproveitarão). Para isso deve batê-las muito bem numa bacia ou alguidar com uma porção de vinho (3 ou 4 canadas) que tirará com o sifão pelo batoque, botando a mistura depois dentro com uma vara de modo que desta não chegue ao fundo. Então deve deixar em descanso alguns dias e quando vir que está claro, trasfegá-lo.


Alexandre Herculano, Cartas de Vale de Lobos.

In Nuno de Sampayo (org.). As Profissões na Literatura Portuguesa. Antologia. Lisboa. Junta de Acção Social, S/d. p. 11-12.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Que não se debruce nunca no balseiro, sem primeiro agitar bem o ar

Peço que quando vir o Francisco lhe recomende o seguinte: Oito dias depois de entrar no balseiro para curtimenta o vinho novo, ele deve prová-lo tirando uma gota com o sifão de guta-percha. Se tiver sabor a vinho bem pronunciado, algum travo e estiver claro ou quase claro deve passá-lo para o tonel espremendo pouco a baganha e deitando esta com água no balseiro em que se fez o ano passado a água-pé. Feita esta, é que a baganha se deve espremer a valer para ela ficar boa. Se o vinho não der prova aos 8 dias, vá-o provando todos os dias até o achar em estado de passar para p tonel. Que não se debruce nunca no balseiro, sem primeiro agitar bem o ar que está dentro com uns ramos, tendo a boca e o nariz virado para o lado. É coisa que lhe recomendo muito, porque é perigoso respirar o gás-ácido carbónico que anda ao de cima de vinho enquanto ferve.

Alexandre Herculano, Cartas de Vale de Lobos.

In Nuno de Sampayo (org.). As Profissões na Literatura Portuguesa. Antologia. Lisboa. Junta de Acção Social, S/d. p. 11-12.

domingo, 16 de outubro de 2011

À janela de Fra Filippo Lippi

Fra Filippo Lippi (Italian, Florence ca. 1406–1469 Spoleto), Portrait of a Woman with a Man at a Casement. Ca 1440.

sábado, 15 de outubro de 2011

Não fugir


Não fugir. Suster o peso da hora
Sem palavras minhas e sem os sonhos,
Fáceis, e sem as outras falsidades.
Numa espécie de morte mais terrível
Ser de mim todo despojado, ser
Abandonado aos pés como um vestido.
Sem pressa atravessar a asfixia.
Não vergar. Suster o peso da hora
Até soltar a sua canção intacta.

Cristovam Pavia, Poesia. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2010, p. 56.

Nota pessoal
Participei hoje, a convite do seu director, na reunião anual da revista Ler. Após o almoço, no restaurante do Vila Flor, em Guimarães, um sorteio de livros. Calha-me o 13 que corresponde exactamente a Poesia de Cristovam Pavia. Raramente tenho sorte, mas desta vez...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

E a economia?


Em vez de orientação, imprevisão e impreparação. Em vez de sacrifícios partilhados, desigualdade. Em vez de poupança, confisco. Nem uma palavra sobre economia. Sobretudo nem uma palavra sobre como é que poderemos sair disto.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A contestação vista como doença mental

Alguns dias após a abdicação do rei Luis-Filipe e a proclamação da IIª República Francesa, os membros da Sociedade médico-psicológica organizam, a 6 de Março de 1848, um debate sobre "a influência das comoções políticas e sociais no desenvolvimento das doenças mentais". A política é a "causa mais activa de alienação mental" ou tornamo-nos loucos "porque não somos suficientemente fortes para suportar a influência da excitação política"?
Alguns meses mais tarde, o especialista francês em doenças mentais, Alexandre Brierre de Boismont faz um balanço clínico dos acontecimentos de 1848: "Quase todos os indivíduos que pertencem ao Partido Conservador apresentam monomanias tristes, enquanto os que abraçaram as ideias novas sofrem de manias ou de monomanias alegres".

Véronique Fau-Vincenti, "Portrait de l'insurgé en malade mental", Manière de Voir - Le Monde Diplomatique, nº 18. Ler Révolutions dans l'Histoire. Août-Septembre 2011. p. 38.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sou eu o errado


Colho um cacho de uvas
da videira densa.
Bago a bago as como.
Quando é que isto foi?
Há anos que ando
distante das vinhas.
As uvas, agora,
compro-as na cidade.
Errei o caminho.
Sou eu o errado.

Armindo Rodrigues, Quadrante Solar. Lisboa, Imprensa Nacional, 1984. p.189.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

À janela de Raimundo de Madrazo y Garreta

Raimundo de Madrazo y Garreta (Spanish, Rome 1841–1920 Versailles). Girls at a Window. ca1875

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O velho leão

Com que armas caça agora o velho leão? A memória dos feitos antigos ainda infunde o temor nas suas presas? A força e agilidade dão lugar à astúcia? Conseguirá manter unida a sua alcateia, quando o prestígio e o respeito externos todos os dias se esboroam? Podemos esperar humildade onde ontem havia audácia, ou o desespero toma o lugar de primeiro conselheiro? Em suma, o velho leão esgotou todos os recursos e prepara-se para sair de cena em paz dignidade, ou será tomado pelos demónios da destruição do mundo em seu redor?

Tendências


A revista Foreign Policy publicou em Setembro um dossiê especial intitulado “The Future Is Now”( o futuro é agora). Enuncia nove tendências para o futuro:
1. A tecnologia vai viver a sua própria vida: será omnipresente, as máquinas serão cada vez mais fortes e inteligentes.
2. As “micromultinacionais” vão governar o mundo: as maiores inovações serão provenientes de pequenas empresas.
3. Tudo será demasiado pesado para ser destruído: dada a interconexão crescente de países, de cidades, de sistemas económicos, etc., os sistemas serão cada fez mais poderosos, mas os impactes em caso de crise serão igualmente mais elevados.
4. O mar da China do Sul será o centro de conflitos do futuro, nomeadamente por causa de China que tentará impor-se na região.
5. Preparem-se para a democratização da destruição: armas cada vez mais poderosas estarão ao alcance de actores considerados perigosos, quer se trate de países quer de terroristas ou piratas informáticos.
6. As características da economia mundial vão mudar radicalmente: as crises e o desordem tornar-se-ão a norma.
7. A América, e não o Médio Oriente, será centro mundial da energia: os países do continente americano investiram massivamente nas tecnologias energéticas, ao passo que o Médio Oriente corre o riso de ser confrontado com uma instabilidade politica permanente.
8. O mundo será cada vez mais povoado, sobretudo de pessoas idosas: o envelhecimento demográfico abrangerá tanto países ricos como países em desenvolvimento.
9. Os problemas e as soluções serão cada vez mais mundiais: o peso dos Estados diminuirá na medida em que o das organizações regionais e internacionais vai aumentar.

Bibliographie prospective. Bulletin mensuel de bibliographie sur les études prospectives del’association Futuribles International. Octobre 2011 - N° 97

sábado, 8 de outubro de 2011

Festa das colheitas

 Arroz de pica-no-chão
 Broa
 6 pipas de vinha vindimada ontem. Amanhã é a distribuição de vinho doce.
Linho e desfolhada em S. Torcato

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Representada em cena de cadeia

Mete-se a chave, corre-se o ferrolho,
Faz a primeira grade estrondo horrendo,
Vai o mesmo nas outras sucedendo,
Levando o guarda sobre o ombro o olho.


Um, deitado sem cama sobre o solho,
Outro a jogar, outro gemendo,
Aquele a passear, e este escrevendo,
Aqui se mata a fome, ali o piolho.


Um pedindo papel, outro tinteiro,
Aquele divertindo na assembleia,
Este chorando a falta de dinheiro...


Lutam os crimes seus na vaga ideia,
Esta a Tragédia é do Limoeiro,
Representada em cena de cadeia.

Bocage

Eloy do Amaral, Bocage: Fragmento de um Estudo Autobiográfico e Selecção Antológica. Lisboa, Ulisseia, 1965. p. 132.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

À janela de Camille Pissarro

Camille Pissarro  (French, Charlotte Amalie, Saint Thomas 1830–1903 Paris), The Garden of the Tuileries on a Winter Afternoon, 1899

Steamboats in the Port of Rouen, 1896
Morning, An Overcast Day, Rouen, 1896.jpg

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Então esse leite-creme!

Povo marinheiro,
povo camponês,
um povo inteiro
à espera de vez.


   - Irene! Irene!
   Sirva o leite-creme!


Não sei para onde
fugiu a sardinha.
Teu peito que esconde,
ó Mariazinha?


   - Irene! Irene!
   Sirva o leite-creme!

Minha preguiceira,
ó santo aconchego!
Dormir como um prego
dorme na madeira...

   - Irene! Irene!
   Sirva o leite-creme!


Recessos da alma,
ressesos estão...
Só quem fala, fala!
Quem se cala, não...

   - Irene! Irene!
   Sirva o leite-creme!


Um, dois, três! Meu velho
mostra como é,
obriga o joelho
a dobrar a fé.

   - Irene! Irene!
   Sirva o leite-creme!


um deus -calçadeira,
portátil, de bolso,
ou a vida inteira
contra-reembolso?

   - Irene! Irene!
   Sirva o leite-creme!


Para abrir, carregue
onde lhe pareça.
Tome uma colher
e morra depressa.

   - Irene! Irene!
   Sirva o leite-creme!


Ó Zélia-só-corpo,
história de cordel,
a carne de porco
faz-te mal à pele

   - Irene! Ó Irene!
   Então esse leite-creme!

Alexandre O'Neill

"Zibaldone". In Poesias Completas, Lisboa, Assírio & Alvim, 2ª ed. 2001. p. 141-142.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Homem só

Não tento esconder, garanto-vos. Um homem só está sempre mal acompanhado.

Paul Valéry
Citado em "Paul Valéry, Écrivain Malgré Lui". Le Magazin Littéraire. Hors Série. Automne 2011. p 29 [trad. livre].

domingo, 2 de outubro de 2011

sábado, 1 de outubro de 2011

G'Noc Noc (3)

Performance no "Convívio"
















G'Noc Noc (2)




"Convívio": centro operacional do Guimarães Noc Noc

G'Noc Noc (1)

Hoje, dia 1 de Outubro, primeiro dia do Guimarães Noc Noc.

 Imagens da Praça de Santiago
Junto à Torre dos Almadas. Aniversário do Elvis Bar.