domingo, 5 de dezembro de 2010

Gestão cultural

[...] Sempre entendi que aos intelectuais não estavam vedadas decisões e acções da esfera do social e politico, onde se combinem estratégia e fiscalização e controlo imediato dos resultados.
Recuando um pouco, poderia talvez apontar o ano de 1987 como aquele em que me vi colocado perante um repto da mesma ordem: depois de um almoço no Cencal, o então Ministro da Educação, João de Deus Pinheiro, sondou-me sobre a disponibilidade que teria em vir a colaborar na criação de uma escola de arte e design nas Caldas da Rainha.
Devo dizer que tal hipótese me surpreendeu. Fizera parte de um Grupo de Trabalho criado pelo Presidente da Câmara para estudar a situação do ensino superior nas Caldas, mas era então investigador a tempo inteiro no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e era essa carreira que intentava prosseguir. De qualquer modo, entendi ser meu dever comunicar a conversa havida com o Ministro ao Director da instituição, o Prof. Adérito Sedas Nunes, o qual, surpreendentemente também para mim, não só me aconselhou a aceitar como me pediu que o fizesse.
A decisão, que só se concretizaria dois anos mais tarde (devido à queda do Governo), de aceitar o convite para integrar a primeira Comissão Instaladora da ESAD, teve impactos imprevisivelmente profundos na minha carreira profissional.
A Escola de Artes e Design abriu as portas aos primeiros alunos há 20 anos. Os escassos dois anos que tivemos para planear e equipar os primeiros cursos, em áreas que, na altura, eram muito mal conhecidas em Portugal, e sobretudo eram quase ignoradas por parte do conjunto da Comissão Instaladora (onde só o presidente tinha alguma aproximação às questões do ensino artístico) parecem-me hoje, uma improbabilidade. Com os meios limitados que nos foram facultados, uma enorme desconfiança por parte da burocracia do Ministério, algumas incompreensões instaladas na sede do Instituto Politécnico de Leiria de então, o tempo a fugir, foram a nossa determinação e o nosso voluntarismo, a capacidade de mobilização e, sobretudo, o consenso criado e alimentado em torno do projecto que permitiram a sua notoriedade elevada e o seu rápido êxito.
Duas décadas volvidas, sou hoje professor vinculado à ESAD e nela exerço funções para que fui eleito pelos meus colegas. E coordeno – transitoriamente, como é bem de ver – um mestrado em Gestão Cultural, uma aposta pela qual me bati com especial afinco nos últimos dois anos, naturalmente secundado pelos meus colegas, pelos órgãos da escola e do Politécnico.
A existência de mestrados na ESAD – Gestão Cultural não é o único, nem sequer foi o primeiro – fortalece-a como instituição de ensino e investigação e como instituição regional. O mestrado de Gestão Cultural permite que a ESAD mantenha uma posição de vanguarda nas formações em artes e cultura de todo o País, e aprofunde os laços de cooperação com instituições congéneres estrangeiras.
A preocupação com a gestão cultural está na ordem do dia. Portugal dispõe hoje de uma cobertura razoável, ou mesmo boa, de infra-estruturas e de equipamentos culturais e precisa de qualificar a sua gestão. Em toda a Europa, o sector criativo tem vindo a crescer em termos de emprego e de valor. A programação cultural impõe o domínio de múltiplos saberes e tende a ser orientada por profissionais de alta qualificação. As verbas envolvidas na gestão dos equipamentos são significativas e não podem estar sujeitas senão aos mesmos princípios de planeamento, de rigor, de prestação de contas, de avaliação dos outros sectores de gestão. [...]

1 comentário:

Cláudia S. Tomazi - Brasil disse...

Se me permite uma colocação. O texto acima prova que o mundo tem soluções para as causas.
Cada indivíduo dentro de sua singularidade, vislumbra acontecimentos ao próprio coração. E toda a graça é a palavra mais apropriada, eleva a grandeza e o espírito, quando as tensões não hão de tornarem-se pragmáticas e o tempo um adversário comum. A cultura está ao que viemos de distantes alentos ou, em diferenças como seres que não mutilam a permanência da vida, e aos que alimentam a sabedoria e criam um novo estado de ordem. O conflito, sempre move um retorno à compreensão. É do contexto, acompanhar o que há de ser um movimento positivo. Pois, o indivíduo tem seu segmento no destino e na virtude, estes alimentam a fé. E, se lágrimas no limite onde a humanidade é feita, dever-se-á ocupar esta margem, com os melhores pensamentos, tudo mais é ilusão. E que este não o seja defeito, aprender sair da ilusão, caminhar em um horizonte pleno, sem faltas, sem erros. Se pés flutuam, pés alucinam, não poderiam ser convidados a partirem. Eis, o que sublima a condição pessoal e o entrave na autoestima, faz-se sinal dos tempos e caracteriza o labirinto social. A adversidade é singular ao mesmo tempo plural, sendo paradoxos de compreensões. O princípio que ordena, oprime e é necessária interpretação como caminho. Pessoas perguntam-se por que estou assim, ou, meu filho é assim, está assim?... Não deveria o erro, levar o perfume da vida. E o desafio ação comum é tragar as falhas educativas e aplicar sistemas que tornem esclarecedor a importância do compromisso de cada indivíduo, fazer queimar com ardor da mesma manifestação. O compromisso da arte é romper com a aflição, cultivar a cultura é combater os acontecimentos. Um aspecto da importância, onde a França é pioneira na gestão cultural.