terça-feira, 26 de maio de 2009

Sindicatos e voto

A prática sindical em cuja formação, após o 25 de Abril, participei entendia o sindicalismo como apartidário. Recusava a tese dos sindicatos correias de transmissão de partidos admitida pelos partidos comunistas e institucionalizada nos países socialistas de partido único. Combatia a visão do sindicalismo como uma espécie de segunda linha da vanguarda a que estivessem confiadas as tarefas de enquadramento e disciplina reivindicativa das massas. Entendia o sindicalismo como uma plataforma de participação autodeterminada e crítica dos trabalhadores.
Ouço na rádio, às 9 da manhã, um dos principais dirigentes sindicais dos professores explicar que a oportunidade da greve de hoje se prende com o período eleitoral. Aos sindicatos compete contribuir para a clarificação das escolhas que os professores eleitores deverão adoptar. Os sindicatos estão assim reduzidos à função de sindicatos de voto.

3 comentários:

Anónimo disse...

Viva João Serra.

Mas a manifestação de professores convocada para o dia 30 de Maio de 2009 é muito mais do que uma iniciativa sindical.

Publico hoje, no meu blogue e passe a publicidade, um manifesto conjunto de apoio subscrito por diversos blogues de professores e pelos movimentos independentes.

O link é este http://correntes.blogs.sapo.pt/301207.html

É evidente que em pleno período de campanha eleitoral, pode inferir-se que há nestas manifestações a intenção clara de influenciar os resultados eleitorais. Já se tinha pensado há muito numa grande manifestação para o final do ano lectivo. A data inicial era o 16 de Maio, mas Fátima e o Cristo-Rei, impediram-no. Para 23 de Maio já estava convocada uma manifestação partidária.

Ficou para 30 de Maio e tudo faremos para que seja mais uma grande momento em defesa do poder democrático das escolas.

As eleições europeias são apenas uma semana depois e os portugueses lá farão as suas escolhas de acordo com as candidaturas que se apresentam.

Abraço e obrigado.

Paulo Prudêncio.

João B. Serra disse...

Obrigado Paulo. O discurso sindical que referi é, a meu ver, deontologicamente criticável e democraticamente inaceitável. Foi só em relação a ele que exprimi a minha discordância. É um discurso de pastor, não um discurso de primus inter pares, de liderança. De resto, os professores sabem muito bem o que querem e como querem. Duvido porém que estejam criadas condições para clarificar a situação e que o período eleitoral seja propício a essa clarificação. Uma das dificuldades reside em transformar os ganhos em vitórias. Será possível nesta conjuntura?

Anónimo disse...

Viva João.

Transformar os ganhos em vitórias tem sido a grande dificuldade dos professores, realmente.

A impressão (para não escrever certeza:) :)) que tenho é que temos um governo que perde vezes sem conta mas que não assume as derrotas com receio dos danos eleitorais que isso lhe pode trazer. O governo vai-se arrastando à custa da manipulação mediática e acarreta consigo o que resta do poder democrático das escolas. É uma espécie de terraplanagem do que existia. No início falavam em reforma, agora o candidato europeu vai mais longe: uma revolução. Mas que coisa mais descomunal e exorbitante. Mas talvez o senhor tenha alguma razão; foi uma "revolução" neoliberal de mãos dadas com a engenharia social e apoiada numa série de invenções técnico-pedagógicas perpetradas pelo monstro burocrático que é o ministério da Educação e que asfixia o ensino, as escolas e os professores. Mas a capacidade (ou a tentativa de) de mutação é tal, que o primeiro-ministro passou de neoliberal a neoObama num esfregar de olhos.

Ora, quem vai perdendo mesmo é a ideia de uma escola pública de qualidade para todos. Foram 4 anos muito maus na Educação. Nem sei como é que se vai conseguir reerguer a escola no sentido de a colocar de novo no caminho da autonomia (e depois apelamos para a educação no sentido da participação cívica).

Este governo caracterizou-se por ser centralista, arrogante e auto-convencido e desconfiou de forma inaceitável dos professores e das escolas.

Aos professores não restou, nem resta, outra alternativa: lutar com todas as forças. Não fosse assim e tudo estaria ainda muito pior.

As conjunturas são o que são. Sabemos das dificuldades em encontrar alternativas de governo que façam uma política diferente. Mas o que podemos fazer em relação a isso é votar de acordo com as nossas consciências e nos partidos políticos que existem.

Obrigado e um abraço.

Paulo Prudêncio.