quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

15 de Janeiro

Do mesmo modo que implantámos marcas afectivas pelo território, reportamos a nossa identidade a marcos afectivos distribuído pelas séries do tempo. Construímos um geografia sentimental e uma história sentimental. Construímo-nos com ambas.
Se há um espírito do lugar, ele devolve-nos a impressão da nossa passagem. Ali fui feliz, digo, ali soube ser feliz, digo de outro modo, rememorando lugares com os quais faço e refaço um itinerário irrepetível. Se há um espírito do tempo é ele que nos permite reconstituirmo-nos permanentemente como passado. Fazemos da nossa história uma chave para descobrirmos o sentido dos nossos passos.
É por isso que um rasgão nesta arquitectura interior pode ser tão difícil de suturar. Os lugares perdem a luz que os fixavam ao mapa e o fio do tempo perde a continuidade. Há insegurança na leitura do espaço, incerteza na do tempo. A rede tem agora os nós lassos ou desfeitos. O som do eco a que nos habituáramos esvai-se. Uma névoa cinzenta espalha-se lentamente pela paisagem e absorve tudo: os sons e as silhuetas. Nela vagueamos como sonâmbulos.


Munch, Melancholy, 1894-1895.

1 comentário:

João Ramos Franco disse...

O SER O ESPAÇO OU O EXISTIR ali naquele sitio onde "uma geografia sentimental e uma história sentimental" nos coloca.
João Ramos Franco